quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Devem as Transportadoras se Transformar em Operadores Logísticos?

Margens apertadas. Competição acirrada. Custos elevados. Clientes exigentes. Pressão por resultados. Infra-estrutura viária precária. Falta de apoio dos órgãos governamentais. Insegurança e impotência frente às quadrilhas especializadas no roubo de cargas.
Esse é o atual cenário do mercado onde atuam as empresas de transporte rodoviário de carga. Para sobreviver e crescer nesse mercado, as transportadoras têm basicamente duas opções: a primeira é se especializar cada vez mais nos serviços de transportes e em seus Clientes e a segunda é se transformar num Operador Logístico e fornecer serviços de logística integrada.
Transformar-se num Operador Logístico deverá ser o caminho natural de todas as grandes e médias empresas de transporte rodoviário de carga no médio e longo prazo. Pesquisa recente da consultoria A T Kearney revela que aproximadamente 82 % das atividades de transportes nas empresas já se encontra terceirizada, enquanto que a terceirização da atividade de movimentação e armazenagem de materiais encontra-se num patamar de 32 % e a gestão de processos e sistemas em apenas 23 %. Essa pesquisa é reforçada por outra, realizada pela Bain & Company em 2.000, que aponta uma estimativa de crescimento de 20 % ao ano no mercado de prestadores de serviços de logística integrada e um crescimento de menos de 4 % ao ano no setor de transportes de carga. Recentemente o Núcleo de Estudos de Logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro mostrou que há uma expectativa de que a terceirização dos serviços de logística atinja até 65% de toda carga no Brasil. Esse seria o índice de saturação do setor, que se encontra atualmente próximo de 20 %, existindo, portanto, margem para esse mercado triplicar de tamanho nos próximos anos.
A primeira opção é aparentemente mais simples, enquanto que a segunda parece um sonho distante, inatingível e arriscado. Ambas as opções exigirão das Transportadoras investimentos em infra-estrutura, pessoas e tecnologia da informação e o seu redirecionamento estratégico.
Especializar-se nas atividades de transporte a ponto de manter-se competitivo no mercado significa antes de tudo, se reposicionar diante do Cliente, e também oferecer diferenciais de serviço a preços competitivos. Manter-se vivo nesse mercado sem depender de alianças operacionais com grandes Operadores Logísticos ou de estratégias radicais de preço é um grande desafio para as Transportadoras.
Escolhida a opção da especialização nos serviços de transportes, é recomendável:
Investir no relacionamento com o Cliente, fazendo isso de uma forma profissional; faça com que o Cliente crie vínculos com os valores da sua empresa e não com os representantes da empresa. Assuma uma postura pró-ativa com os Clientes; posturas defensivas ou reativas devem ser abandonadas.
Repensar continuamente os processos a fim de manter-se em linha com as expectativas do Cliente. Se possível, supere as expectativas de seu Cliente. Procure também se antecipar sempre; tente saber antes mesmo de seu Cliente aquilo que poderá criar-lhe dificuldades ou aquilo que possa trazer maior fidelidade. Entenda aquilo que ele abomina e aquilo que ele valoriza.
Investir em tecnologia de informação proporcionando ao Cliente a visibilidade total do processo, permitindo aumentar a confiabilidade e segurança dos Clientes nos serviços prestados.
Monitorar constantemente o desempenho operacional da empresa com a finalidade de realizar rapidamente os ajustes necessários para corrigir os desvios ocorridos.
Contratar e reter pessoal de qualidade.
Ser flexível e ágil a ponto de desenvolver soluções personalizadas que atendam ou superem as necessidades do Cliente.
Desenvolver parcerias com outros prestadores de serviço, inclusive com Operadores Logísticos.
Investir o mínimo possível em ativos operacionais, variabilizar ao máximo os custos e implementar uma gestão profissional das finanças da empresa.
Operadores logísticos são empresas capacitadas a prestar uma ampla variedade de serviços logísticos, de forma integrada. São empresas aptas não só a operar, mas também a planejar e gerenciar os processos logísticos. O “coração” do Operador Logístico é o Departamento de Engenharia Logística. É essa a área provida de pessoas, metodologia, ferramentas e banco de dados para o planejamento e execução de projetos logísticos. É ela quem oferece suporte técnico para a elaboração das propostas, para a implementação e monitoramento das operações e quem realiza as melhorias contínuas solicitadas pelos Clientes.
No Brasil os Operadores Logísticos basicamente oferecem serviços de gestão e operação de transportes, da movimentação e armazenagem de materiais e dos estoques. Outras atividades podem diferenciar um Operador Logístico dos demais como a montagem de kits sazonais/promocionais, atividades de importação/exportação, coleta programada em Fornecedores, transporte internacional, etc. Aqui a atividade do Operador Logístico caracteriza-se por uma forte aplicação de tecnologia da informação, pelo baixo investimento em ativos operacionais e pela grande utilização de terceiros na execução das atividades operacionais, principalmente em transportes.
Pesquisa recente realizada pela TigerLog / Deloitte Consulting com 10 das 20 maiores empresas de transporte rodoviário de carga do Brasil aponta que 50 % dessas empresas entendem que o avanço dos Operadores Logísticos é uma grande ameaça para o setor. Os Operadores Logísticos tendem a ocupar, junto ao Cliente, o espaço outrora pertencente ao Transportador. O contato do Transportador junto ao Cliente deverá ser bastante limitado já que caberá ao Operador Logístico o gerenciamento do transporte. A contratação da transportadora, a negociação e os pagamentos do frete e o monitoramento do desempenho passarão a ser feitos pelo Operador Logístico. Obviamente, a existência de um intermediário nesse fluxo significará uma redução nas margens operacionais do Transportador para compensar a remuneração do Operador Logístico pela gestão logística. Aliar-se a Operadores Logísticos será fundamental para as Transportadoras.
Tornar-se um operador logístico pode ser a melhor opção para uma Transportadora, principalmente:
Se a empresa já vem desenvolvendo um leque diferenciado de serviços que ultrapassa os limites normais de uma Transportadora e verifica a possibilidade de maior demanda pelos mesmos;
Quando existe uma oportunidade concreta em um Cliente atual, atrelada a um contrato de médio ou longo prazo;
Quando não se tornar um Operador Logístico pode se tornar uma barreira para o desenvolvimento ou até sobrevivência da empresa;
Quando existem recursos financeiros disponíveis para novos investimentos
Definida a transformação em um Operador Logístico, aconselha-se às Transportadoras:
Evitar criar uma empresa à parte, procurando aproveitar a história, a imagem e o respeito conquistado pela Transportadora. Se desejar criar empresas diferentes, procure aproveitar ao máximo a sinergia entre elas, evitando duplicar estruturas administrativas e operacionais. Evite também a concorrência entre elas.
Não achar que basta divulgar no mercado que sua empresa agora é um operador logístico sem se capacitar para tal. Investimentos em pessoal qualificado, tecnologia de informação e metodologia serão fundamentais.
Não pensar que tudo poderá ser feito com investimentos reduzidos. Simule o orçamento para cobrir os investimentos para a capacitação da empresa.
Não achar que da noite para o dia sua empresa se tornará um Operador Logístico. O caminho é longo. Muitas empresas simplesmente alteram a sua razão social ou modificam visualmente seus caminhões acrescentando a palavra Operadora Logístico e acham que agora realizam atividades de logística integrada.
Não pensar que poderá fazer tudo sozinho sem a formação de alianças estratégicas.
Não achar que planejamento estratégico é desnecessário.
Bom trabalho e boa sorte !!!
Marco Antonio Oliveira Neves

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